A construção da masculinidade patriótica chinesa: ‘as bixas arruinarão a nação’.
“Se os jovens são femininos, a nação será feminina!
Muitos estudiosos da cultura-política têm sugerido que o nacionalismo envolve o controle ativo sobre os traços biológicos de uma população, tais como saúde, reprodução, gênero, sexualidade e muito mais. A recente campanha da China contra o “niang pao” (娘炮), um termo vulgar e depreciativo que é literalmente traduzido em inglês para uma “arma feminina” ou mais comumente como um “homem afeminado” ou “bixas”, é um exemplo clássico de tais tentativas biopolíticas de normalizar a virilidade patriótica.
Alguns nacionalistas de linha dura têm divulgado o discurso ‘Sissies will ruin the nation’ (娘炮誤國) nas plataformas de comunicação social chinesas desde 2018, após acusarem a Televisão Central da China de escolher ídolos afeminados para os seus anúncios e programas.
A campanha online difundiu-se através de slogans como ‘Se os jovens são femininos, a nação será feminina! Os afeminados arruinarão a nação! (少年娘，则国娘！娘炮误国！). Os ativistas anti-afeminados rotularam os ídolos gays como uma das quatro pragas que devem ser eliminadas para preservar a força da nação.
Também argumentaram que o “estilo maricas” não fazia parte da cultura convencional da China, mas uma importação das culturas japonesas (por exemplo Bishōnen) e sul-coreanas (Kkonminam), e afirmaram que todos os países fortes abraçaram as culturas masculinas.
Os nacionalistas tiveram um apoio limitado nos primeiros momentos, com muitas críticas publicamente repressivas as suas reivindicações. Os críticos observaram que a tradição literária chinesa tem uma cultura feminina muito forte e que muitos países ocidentais poderosos respeitam e abraçam diversas expressões de gênero e direitos LGBTQ+.
Mas a campanha acabou por ter o apoio total do governo. Em Janeiro de 2021, o Ministério da Educação revelou o seu plano de incluir a ‘educação masculina’ no ensino básico do país, na sequência de uma crise de ‘feminização’ nos rapazes da China. E mais recentemente, os legisladores da China intervieram para suprimir a indústria do entretenimento.
Desde Agosto, várias celebridades têm sido censuradas e punidas pelos seus “atos imorais”. O blogger Feng Xiaoyi foi um dos alvos da repressão. O relato de Feng sobre Duoyin, a versão chinesa de Tiktok foi retirada após o seu vídeo, ‘comendo pêssego’ tornar-se viral, após alguns usuários criticá-lo por estar maquiado e por sua expressão facial.
