As fendas que são menos vistas. Perguntas para sustentar uma pedagogia incerta.
por Lucía Egaña Rojas e tradução de Sara Wagner York
Acaso a palavra pedagogia não é a mesma que demagogia, apenas com dislexia?
Por que a dislexia não é considerada sexy?
Podemos imaginar uma poesia de cordel para amarrar um pacto de aprendizagem?
A excitação é um argumento expositivo?
Por que o gesto de desacreditar-se insiste diante de critérios heterossexuais de legitimidade pedagógica e institucional?
Por que esses heterossexuais, vendo você despojado de todos os seus princípios de legitimidade, aproveitam a oportunidade para privar você de sua saudação, denunciá-lo ou jogá-lo de um penhasco?
O caminho das pedagogias cuir não é um caminho que só regride e se degrada, no sentido de que não é capaz de se projetar em um futuro promissor?
É possível compreender dentro de uma estrutura normal e normalizante uma prática pedagógica que procura quebrar divisões entre teoria e prática, entre acima e abaixo, entre homem e mulher, entre futuro e passado?
Quem faz valer a busca que tenta contra as relações de poder?
É possível colocar os coquetéis Molotov no poder?
Como você coloca os coquetéis Molotov no capacitismo?
É possível propor processos pedagógicos onde nem o futuro nem os pais são a coisa mais importante?
Quem aprende como um cão, quem faz perguntas como um fungo, quem observa como uma partícula de pó?
É possível pensar (você pode imaginar) uma pedagogia que não se concentre nos resultados esperados?
Quando a realização cai pelo buraco rachado do quebrado?
Como ignorar essa tentativa de moldar o corpo, a subjetividade e o intelecto da educação que lhe foi dada?
Como podemos ignorar a produção da ignorância como modelo de conhecimento ocidental, branco e heterossexual?
Por que essa ignorância ignora o que ignora, finge que não existe, transforma-o em um detento desaparecido?
As escolas que conhecemos não são fábricas ou agentes de produção da ignorância, simplesmente, sem suspeita, sem preocupação, simplesmente, a ignorância como apagamento da complexidade?
Quando a educação heterossexual se constitui como um elemento estritamente homogeneizante?
O que os projetos do estado-nação estão fazendo aqui?
Em que contextos a rarificação do cuir pode levar a um lugar inconclusivo?
É possível falar de pedagogias cuir sem levar em conta a existência de heterossexuais?
Por que eles insistem tanto na relação entre sexualidade obrigatória e um corpo “normalmente” capaz?
Poderiam as pedagogias cuir ser usadas para desvendar a incoerência da heterossexualidade?
Por que eles entendem “incorporar o corpo ao discurso pedagógico” de uma forma tão anti-corpórea?
Alguém entendeu?
Por que alguns “textos de estudo” parecem ser escritos com amoxicilina?
Com que finalidade matar todos os vestígios de bactérias?
A assepsia é algo com que devemos aprender?
Quanto disto você leu é curioso?
Quanto do texto é pedagógico?
Pode haver uma definição fechada de algo que seria chamado de “cuir pedagogia”?
Como entra em jogo a diferença entre bicha e cuir quando ela acompanha o pedagógico?
As estruturas teóricas existentes são capazes de defini-la?
Como fazer uma pedagogia que não seja extrativista?
Quais serão os encantamentos contra a dívida, o roubo e a violência?
Como ensinar algo sem roubar o material e o doloroso?
Como não esperar sempre do futuro o rápido e a velocidade da realização imemorável?
Como fazer uma pedagogia que não seja racista?
É possível ensinar algo como se a violência não existisse?
Como se orientar diante do binômio que desintegra a teoria e a prática?
Como emancipar-se da “distância crítica” e dessa noção de crítica que expulsa o corpo das esferas do pensamento?
Existe um lugar onde a pedagogia e a sexualidade possam ser misturadas sem as estruturas que regulamentaram este vínculo geralmente permeado por abuso e perversão?
Como será tão difícil “incluir” a sexualidade se devemos trazê-la para dentro?
Você pode ensinar colocando o parceiro, primo, vizinho, irmã de um sangue ansioso por uma ética de aprendizagem?
Como você emancipa a sexualidade que não é heterocêntrica do pervertido?
Por que eu deveria escrever sobre cuir pedagogia?
O que me qualifica para fazer isso?
Existem especialistas no assunto?
Com base no que a experiência em algo tão difuso seria configurada?
Por que não existem especialistas curiosos, e apenas especialistas esquisitos?
Por que é que nos processos pedagógicos que pratico, ou que acho que pratico, os alunos me perguntam com tanta freqüência se uso ou tenho uma metodologia porque não é óbvio que tenho uma se estou vestido assim e tento ouvir como um grupo é organizado quando não recebe ordens?
Um texto que não afirma nada e apenas dúvidas é talvez o mais pedagógico e o mais curioso que posso dizer?
Material original em: https://hysteria.mx/las-grietas-que-menos-se-ven-preguntas-para-sostener-una-pedagogia-incierta/