Você não tem cognitivo para entender o que estou falando!

por Sara Wagner York

Sara Wagner York
4 min readJun 17, 2024

Paulo Giraldelli, filósofo que se identifica como pessoa de esquerda, propagou tantas fake news que teve seu canal suspenso. Isso não é novidade, pois ele já havia bloqueado pessoas trans e travestis de interação em suas redes sociais pelo mesmo motivo. Armar um circo de pânico sob pretexto de problematização e não de polêmica para angariar “seguidores” a qualquer custo. Pobre homem idoso que revestido de tantas certezas não compreende a urgência de ser parte de uma esquerda COM todos e não mais SOBRE aqueles os quais ele próprio se considera superior. Vale tudo em nome da condução do outro pelo mundo pseudo letrado? Creio que não! Pelo visto não apenas a queda do falo poder tem colocado pessoas incríveis na penumbra por décadas ou século, mas sobretudo, mantido na rede visível gente que já deveria ter se reciclado há anos.

Lembram da fala de um homem-idoso-professor-pesquisador na Câmara dos Deputados, quando ele interpela a deputada de direita dizendo que ela “não tinha capacidade cognitiva para entender o que ele estava dizendo”, ilustra bem essa presunção de assumirmos certas perspectivas e deixarmos o outro à margem delas.

Se eu, enquanto travesti, digo a mesma coisa, sou tratada como alguém que quer lacrar com um discurso identitário. No entanto, quando um homem de meia-idade pegajoso e sempre com uma “novinha” a tira colo faz a mesma crítica, isso é visto como uma tirada maravilhosa de cena. A certeza deles me cansa! De fato, chegamos a um tempo em que refletir sobre os processos de assimilação, de informação e de registro para a vida cotidiana se tornou um desafio complexo e difícil. Isso exige que nos calemos, mesmo tendo tantas razões, e repensemos o que está sendo dito.

A visão multirreferencial da educação e da tecnologia, como discutida na entrevista em que Lucia Santaella entrevista Edméa Santos, pode impactar a forma como abordamos o ensino e seus processos. Duas mulheres que fazem a educação a partir de suas cenas e subversão de scripts. Edméa aponta pelo menos cinco pontos de atenção nessa tessitura que me parecem urgentes aos nobres cavalheiros:

1. Integração de Diferentes Perspectivas, uma vez que ao adotar uma abordagem multirreferencial, os educadores podem incorporar diferentes perspectivas, teorias e metodologias no processo de ensino, enriquecendo a experiência educacional. Diferentes sujeitos tecendo juntos.

2. Inovação e Criatividade: A diversidade de referências e abordagens pode estimular a inovação e a criatividade no desenvolvimento de práticas pedagógicas e no design de currículos mais dinâmicos e adaptáveis. Ou seja, fazermos uso de nossas percepções para criar brechas e alterar perguntas cujas respostas já estão prontas.

3. Adaptação às Mudanças Tecnológicas: Uma visão multirreferencial permite que os educadores estejam mais preparados para lidar com as constantes mudanças tecnológicas e integrá-las de forma significativa no processo de ensino-aprendizagem. O que era um homem histórico no século XX, no século XXI o feminismo nos apresenta novas representações globaise elas são MUITO superiores que o velho sábio que sabe respostas sem nunca ter trilhado um palmo de espaço com aqueles dignos de suas criticas.

4. Atenção à Diversidade: Considerando diferentes perspectivas e referências, os educadores podem atender melhor às necessidades e características individuais dos alunos, promovendo uma educação mais inclusiva e equitativa. A palavra capacitismo é entendida como neologismo, e nela se concentram estruturas que nos tratam a todos como sendo capazes e supostamente detentores do mesmo barema, bastando uma dose de “esforço”, o que não é verdade como sempre é propagado.

5. Desenvolvimento de Competências Multidisciplinares: Uma abordagem multirreferencial encoraja a integração de conhecimentos de diversas áreas, promovendo o desenvolvimento de competências multidisciplinares em quaisquer estudantes. Não precisamos ser “tudologos”, mas atentar a uma leitura holística sem pressuposto ajudaria bastante!

Edmea Santos, Feleipe Carvalho e Sara Wagner York, arquivo pessoal

Somos muito melhores que os donos de uma direita rasa e cheia de certezas e essa qualidade herdada (às certezas) mais fala sobre a prática da direita que de fato sobre a consolidação mais visceral de pessoas que se esforçam para manterem vivas as chamas da justiça social, da esperança e dos direitos humanos, que antes de tudo, deveria proteger todas as pessoas ainda tolidas (ou bloqueadas) que esses senhores tanto desdenham!

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